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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Os infortúnios ocultos

Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres.

 Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. 

Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.

Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida?

 Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente. 

Aonde vai ela? 

Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. 
À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. 

É que ela vai acalmar ali todas as dores. 

Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar.

 O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família.

 Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta. 

Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. 

Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. 

No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita.

 Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. 

Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. 

Qual o seu nome? 

Onde mora? 

Ninguém o sabe. 

Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação. 

À noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem. 

Por que tão singelo traje?

 Para não insultar a miséria com o seu luxo. 

Por que se faz acompanhar da filha? 

Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. 

A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz:

 “Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? 

Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será teu mérito? 

Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso?

 Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa. 

Não te parece bastante isso? 

Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. 

Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti.” 

É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou.

 É espírita ela? 

Que importa! 

 Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. 

Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. 

Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos. 

Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. 

“Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém.” 

Falava assim Jesus. (Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 4.)

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